Discussões filósofas (e não filosóficas) parecem ser o passatempo favorito da geração Sky/Net (uh-oh!). Chamo de filósofas pois deixam à beira da estrada qualquer semelhança que poderiam ter com uma discussão filosófica; o que fazem é trazer à mesa apenas a tristeza e a pompa de um filósofo escocês mamado. Todo mundo já vivenciou isso: aquele coleguinha de escola que durante os últimos anos esteve enfiado em livros muito importantes e cheios de significado, e que infelizmente disso só trouxe a fleuma enganadora de um jovem fumador de cachimbo.
Estou sentado meio que à frente desse sujeito (mas de lado, na verdade), que tenta, de alguma maneira muito delicada, apresentar uma crítica à minha pessoa. Muito delicado, de fato, como se eu fosse um leão de muitas cabeças e uma quantidade obscena de dentes afiados e brilhantes à mostra, após consumir quantidades grandes de café. É fato razoavelmente bem estabelecido que lá pelas 10 da manhã eu já consumi café suficiente para causar uma dezena de infartos em qualquer atleta de ponta, mas costumo manter os dentes bem guardados. De qualquer maneira, cá está o sujeito, meio à minha frente, delicadamente submetendo uma crítica à minha pessoa, sobre a minha pessoa. Parece que alguém não gosta do meu tempo de fazer as coisas, o meu tempo de reação é muito rápido.
Wait a minute. Really?
Aparentemente, ser uma pessoa que não gosta de reuniões do tipo em que nada é decidido é ruim. Eu sempre encarei a coisa assim (sou pago para fazer um determinado trabalho, e não quero perder o meu tempo, nem o de ninguém (que supostamente deveria ser valioso (e que ao que parece não vale tanto assim))) com baboseira. Essa abordagem não falhei, ao que vejo, em trazer ao restante da minha vida, inclusive em interações intra-familiares e nos meus eventuais envolvimentos emocionais.
É claro que eventualmente alguém pode dizer que fazer algumas reuniões antes de disparar uma arma pode ser uma boa idéia, e dependendo do que for até pode ser, mas em geral é apenas burocracia e palavrinhas, com o peso de uma grama de veneno ofídico de qualidade irrefutável.
É uma pena também ver que eu acabei de gastar uma oportunidade única de usar três parênteses incorretos num mesmo período, tentando explicar o óbvio. É assim: você sai com o cachorro pra passear, ele fez o cocô, você limpa o cocô (se for uma pessoa educada como eu) e volta com o cachorro pra casa. Ele já fez o cocô. O cocô já era, não é foco de atenção aqui. Arrumemos outra coisa pra fazer.
O que aparentemente escapa o entendimento de boa parte das criaturas bípedes e falantes que eu conheci até agora, é que intenção e ação diferem apenas em grau de visibilidade, a ponto de um adágio bastante vulgar estabelecer que “o que os olhos não vêem, o coração não sente”. Não me interessa, e nem me compete, discutir aqui a validade dessa declaração. Apenas me chama a atenção o fato de ser uma frase tão difundida e usada, mas que, de alguma forma, ainda assim os bípedes falantes parecem não enxergar o que rasteja por trás dela.
Falar de tempo também é uma coisa complicada, principalmente para bípedes falantes, por isso enfrentaremos agora uma pequena anedota que nunca falha em demonstrar o que quero dizer – ou em confundir as pessoas.
Uma cervejaria qualquer, dois alemães bebem. Um gosta do chopp com colarinho, o outro acha chopp uma boa merda, mas já que não temos boa cerveja de garrafa em nossa cervejaria hipotética, ele quer o chopp sem colarinho.
E aqui acaba o itálico.
No fim das contas eu não estou bebendo o chopp de nenhum dos dois, portanto estou pouco me lixando qual dos dois tem razão científica; eu sei bem como gosto do meu chopp, e isso me basta. Mas o importante é que, até onde vai meu conhecimento, ninguém nunca morreu disso (apesar do que, sob uma certa ótica, dá pra dizer que todas as guerras começaram por causa do tamanho de um colarinho, mas isso é de uma profundidade de análise que foge totalmente do escopo de nosso presente esforço).
Finda a anedota, e certamente que isso nada esclareceu a ninguém, vocês devem estar se perguntando o que diabos eu estou tentando dizer. O fato é que eu mesmo não sei bem, já que receber críticas não é exatamente uma das minhas atividades favoritas. Mas acho que lido até bem com a coisa; só me causa muito desconforto perceber que no fim do dia, mais uma vez, ninguém entendeu porra nenhuma.
O que eu estou querendo dizer é que honestidade é uma coisa valiosa. Consigo e com os outros, o clichê todo. Mas a verdadeira beleza da honestidade é que esta lhe dá subsídios claros para ir fazer outra coisa – deixar o cocô do cachorro na lixeira (novamente, se você for uma pessoa educadinha como eu) e ir embora, arrumar outra coisa qualquer, válida ou não, para se ocupar.
Sou do tipo que não suporta perder tempo com bobagens, e se você discorda, que engasgue com um pedaço de pão. Isso é só para mostrar o quanto eu acho que você parece um ganso.
Não se enganem, crianças e adultos e seres atemporais desse planeta, não se enganem pois o nosso tempo está passando. E enquanto vocês acham que o tempo vai passando, na verdade ele vai correndo, pulando e chutando portas pelo caminho, e ele te dá um pinote VIOLENTO se você não se cuidar.
xXx